Cobras-corais em Santa Maria: saiba por quais motivos elas aparecem neste período do ano e se realmente oferecem perigo à população

Cobras-corais em Santa Maria: saiba por quais motivos elas aparecem neste período do ano e se realmente oferecem perigo à população

Foto: Tiago Gomes dos Santos

O aparecimento de cobras-corais no Bairro Nossa Senhora de Lourdes, em Santa Maria não só assustou os moradores como também repercutiu nas redes sociais, com comentários e dúvidas. Por isso, o Diário conversou com o biólogo Tiago Gomes dos Santos, professor de Zoologia no Departamento de Ecologia e Evolução da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e coordenador do Laboratório de Herpetologia, que estuda anfíbios e répteis, sobre o assunto. Confira abaixo:


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Formato, cores e características marcantes

As cinco espécies de corais presentes no Rio Grande do Sul apresentam três cores: vermelho, branco e preto. Nas fotos enviadas por moradores do Bairro Nossa Senhora de Lourdes, Tiago comenta que são as verdadeiras e pertecem à espécie Micrurus altirostris. Enquanto os machos podem medir entre 46 cm e 103 cm, as fêmeas medem entre 40 cm e 97 cm.


Um fator que pode causar confusão entre a população é sobre a diferenciação entre corais falsas e verdadeiras. Tiago explica as diferenças entre elas:


– A falsa coral não possui o padrão do anel com cores bem definidas, e a barriga é branca amarelada com algumas pintas pretas. 


Motivos para o aparecimento das corais nesta época

Foto: Arquivo Pessoal


Segundo Tiago, as corais estão em ciclo reprodutivo no Rio Grande do Sul. Entre março e abril, dois períodos marcam esse ciclo para elas: nascimento e surgimento dos filhotes, que ocorre justamente entre o fim do verão e início do outono, além do processo de acasalamento. 


– As fêmeas exalam um odor que os machos conseguem captar, mas eles entram em competição para acessar essas fêmeas. Eles eram em uma espécie de combate físico, onde eles praticamente se enroscam um no outro, quase em formato de trança, em disputa. Neste momento, eles também ficam expostos na natureza. 


Fora desse período, essas cobras raramente são encontradas. Tiago explica que as corais possuem o hábito de viverem embaixo da terra, em galerias e buracos cavados por elas:


– Elas sobem para a superfície para se alimentar, normalmente comem outras cobras ou as famosas "cobras cegas", que podem ser encontradas dentro desses túneis ou na superfície. Também costumam ficar embaixo de pedras, por isso, é raro encontrar uma coral. Elas não sobem árvores, por exemplo, pois são rastejantes.


Outro motivo que pode fazer essas cobras aparecerem é o período de chuvas intensas, quando a água alaga o solo e as galerias onde elas costumam ficar. Com isso, elas sobem para a superfície e são mais fáceis de serem encontradas.


Como a coral se comporta em situações de perigo

Foto: Arquivo Pessoal


As corais reagem quando sentem que podem ser pisadas ou quando uma pessoa tenta tocá-la com a mão, por exemplo. Uma curiosidade reforçada é que essas cobras não picam e, sim, mordem.

– Não chamamos de picada porque a coral não tem um comportamento semelhante às outras cobras, que dão o bote e saem. A coral tem dentes menores. Ela morde e segura a presa, fazendo com que o veneno seja transmitido.


Essas cobras não possuem o hábito de atacar. Ao contrário das demais cobras, possui um comportamento bem específico em situações que se sintam em perigo. 


– Ela forma uma espécie de "s" com o corpo no chão e vira de um lado para o outro, como se estivesse mostrando "sou venenosa". Além disso, ela levanta a ponta da cauda e fica mexendo em direção à pessoa enquanto esconde a cabeça. Muito se fala que ela tem um ferrão na ponta da cauda, mas é um mito. Ela faz isso para evitar que o ataque seja na cabeça, que é uma parte vital para ela. Esse comportamento é típico quando se sente ameaçada. 


Mordida é venenosa: sintomas e como buscar atendimento médico

Os efeitos causados pela mordida das corais, que são peçonhentas, envolvem sonolência, um "olhar pesado", com a pálpebra caída. O efeito local, na picada, é quase ausente, com uma leve dormência, sem o surgimento de bolhas.


– Com o passar do tempo, esse quadro vai se agravando, com dificuldade para engolir, visão turva ou dupla, a pupila pode ficar dilatada. Podem aparecer vômito e insuficiência respiratória, pois a musculatura responsável pela respiração vai parando de expandir – explica.


O ideal, nestes casos, é um procurar um hospital mais próximo imediatamente. O tratamento para mordida de corais é a aplicação do soro antilaquético para tratar esse tipo de envenenamento. 


Ao encontrar uma coral: o que fazer e como pedir ajuda
Justamente por não terem um comportamento agressivo, registros envolvendo ataques de cobras corais são considerados pouco frequentes e não demandam "terror" por parte da população. 


– Dentre as espécies de cobras peçonhentas, as corais são animais que têm poucos registros envolvendo humanos. Isso se deve ao fato que não dão bote e só mordem caso se sintam realmente ameaçadas – elas não saem rastejando atrás das pessoas. Por isso, fica a dica para não tentar manuseá-las, evite que os pets se aproximem e chame ajuda – orienta o biólogo.


Se esse tipo de animal aparecer em condomínios ou locais fechados que não possa retornar à natureza, o ideal é acionar, principalmente, o Batalhão Ambiental, responsável pelo resgate de animais selvagens.


2º Batalhão Ambiental da Brigada Militar

Endereço:  Rua Antônio Gonçalves do Amaral, 1.100, Bairro São José, Santa Maria.
Telefone: (55) 3286-1455

– É um animal potencialmente letal sim, mas também tem características e aspectos da espécie que reduzem esse risco se a gente seguir algumas regras básicas, como não tentar tocá-las ou pisá-las. 

Matar animal selvagem é crime

Vale lembrar que a Lei 9.605/98 define que matar animais silvestres é crime. Além disso, a pena para quem matar um animal silvestre pode incluir: detenção de seis meses a um ano e multa de 50 salários mínimos.


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